Levando em consideração os vários comentários a cerca do
Livro dos nomes mortos escrito por Abdul Al Hazred - foi feita uma analise
parcial sobre as forças opostas no processo de criação, levando em conta,
também, estudos a cerca dos deuses do Antigo Egito. – É interessante deixar
claro que não estamos afirmando nada sobre a veracidade da existência de Abdul
Al Hazred uma vez que um grupo seleto de estudiosos afirma que Al Hazred nunca
tenha existido.
Analisando alguns fragmentos de “O livro dos nomes mortos”
onde comenta a cerca dos Antigos
sua descendência, temos:
“Os Antigos avidamente oprimiram os caminhos das trevas e
suas blasfêmias inundaram a terra, a criação inteira inclinou-se diante de sua
potência e reconheceu sua perversidade. [...] Os deuses mais antigos,
co-criadores (e partes da criação), expulsaram-nos da Terra para o vazio dos
espaços onde reina o caos e que não abrigam qualquer forma.”
Lembrando apenas que toda a história humana indicia que
desde sempre o Caos se faz presente neste processo infinito de evolução
cosmogónica que, miticamente ou não, sempre representou o próprio homem, entre
a razão e a fé, nas suas diversas facetas culturais. Sabemos que este é apenas
um fragmento radical a cerca da necessidade humana que percorre toda a extensão
da terra na tentativa de encontrar o “portal” de acesso a real compreensão da
nossa existência.
No Egito, a força primordial, o Caos original, chamava-se
Num que a partir do “Nada” “Tudo” se criou. Seus mitos ganharam forma e
contribuíram para criação de tudo o mais. Assim acontecia que o mundo não era
exatamente conforme a ordem divina. Muitos deuses misturavam-se a esse drama e
assumiam o papel de inimigos nas intrigas míticas. A serpente Apófis era um ser
liminar, uma ressurgência no universo organizado da inorganização primordial,
uma das forças do não-existente que perturbava o existente. Quando a fome se
abatia sobre o país, era porque a barca de Ra encalhara no “Banco de areia da
serpente Apófis”.
Seth, tão brutal e perigoso como Apófis, era, ao contrario,
um dos elementos da criação. Com certeza um elemento desordenado, o vento
quente que varria o deserto, o eterno litigante e rival de Hórus, mas que
figurava honrosamente nos grupamentos divinos.[...] – Em suma, os causadores de
perturbações pertenciam a duas categorias: de um lado, o agitador, o mal
necessário, Seth, o intratável e seu diversos avatares (Crocodilos, serpentes,
escorpiões, asnos e etc.), de outro, Apófis e suas transformações (Serpente,
Nehaher, Nik, Rik etc.). Inimigo mortal de Rá, Apófis era o niilista da
catástrofe final. Para ele não se tratava de levar perturbação ao mundo, mas de
suprimi-lo.
Ainda em outras culturas encontramos outros mitos,
causadores de perturbações, que ao longo das eras contribuíram para o processo
de construção, destruição e reconstrução do nosso Universo, lançando nas mãos
do acaso o futuro da humanidade que se submetia às conseqüências da perturbaçã
o gerada a partir da Vontade divina.
Considerando que nem todos os mitos travaram lutas entre si,
a maioria, se não todos, de uma forma ou de outra, interferiram no ciclo
transmutativo do Universo, entre eles: Thor, deus guerreiro escandinavo e
correspondente ao mito védico Indra, costumava festejar suas vitórias sobre as
forças do Caos, não hesitou em adornar-se de noiva para recuperar seu precioso
martelo e destruir Thryn e assim manter seu povo a salvo e em paz.
Ahriman, deus das trevas no mazdeismo, causava o desalento
da humanidade por oposição a Ormazd que é a manifestação do Infinito no que
tange a benignidade no Universo, por esta razão seus crédulos sabem que a
derrota de Ahriman é certa e por esta razão e também por devoção e confiança a
Ormazd eles se mantêm firmes mesmo quando suprimidos pelo mal de Ahriman.
No panteão induista, Shiva representava a selvageria
indomada, o guerreiro transformador que destrói para construir algo novo,
enquanto Vishnu era o deus destruidor daqueles que ameaçavam a boa ordem.
De Pan Gu, originador de todas as coisas na cosmogonia
chinesa, surgem duas forças, dois extremos ou princípios universais que irão
formar novas combinações que causarão o desequilíbrio e o equilíbrio no
Universo. Já na Babilônia, Marduk, depois de derrotar Tiamat, utilizou-se dos
restos dessa “personificação do mar” para criar todo o Universo e é justamente
com o sangue de Kingu, deus rebelde e desordeiro, que Marduk cria os homens,
talvez este seja um ponto de consideração quando as manifestações desordeiras
de Kingu através das ações humanas.
Para o homem crédulo e tolo, todos os acontecimentos, são
manifestações das deidades em que crê em, muitas vezes interpretadas como
castigo e condenação por alguma falha humana, insatisfação, e como provisão
dévica que representam a satisfação divina quanto a “relação” entre o homem e a
deidade. Porém para os sábios, as manifestações supostamente divinas são apenas
representações dos ciclos de transformação física do Universo que interferem na
condição existencial humana.
É certo que grandes nomes de buscadores alquímicos, gurus
alienados na busca da compreensão do Todo, criaram meios para compreender o
funcionamento do Universo sem olharem para dentro de si mesmos e por
desaperceberem o fato de que são “parte” Daquilo que também não está aqui,
descreveram diversos caminhos, mas nada comprova que os acessaram.
Abdul Al Hazred, seja um personagem fictício ou não, revelou
o caos dentro de si cada vez que negava as manifestações do conhecimento que
adquirira chegando a ponto de enlouquecer sistematicamente entre a linguagem
dos Deuses mais velhos e a linguagem deturpada do homem. No entanto Al Hazred
descobriu o caminho da Grande Raça e foi tomado por Cthulhu, talvez como
gratificação por ter-se dado conta de que era “Um” dentre “muitos”. A cada
microsegundo de existência o ser humano com seus infinitos fragmentos do
Universo, sendo ele próprio um fragmento, encontra-se num novo estágio de
subversão sintética sempre em busca da transformaçã o necessária para canalizar
a linguagem de acesso ao portal do mundo daqueles que estão além do nosso tempo
e espaço.
Para melhor entendimento seria interessante analisar o
texto: “Co-herdeiros do Caos”